quinta-feira, novembro 21, 2024
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Do Ozempic ao Mounjaro: drogas contra obesidade evoluem, prometem maior perda de peso e novos modos de uso

Novas substâncias estudadas pelas farmacêuticas são apresentadas pelas empresas como ainda mais efetivas do que os remédios já disponíveis no mercado para tratamentos para perda de peso.

Ozempic, Victoza e Mounjaro são somente alguns dos remédios utilizados contra a diabetes 2 que também passaram a ser usados com o objetivo de perder peso. Mas com a busca das farmacêuticas por drogas mais eficazes na luta contra a obesidade, já há perspectivas de moléculas mais eficientes do que as primeiras formulações que chegaram ao mercado.

 A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, até 2025, 2,3 bilhões de adultos ao redor do mundo devem estar acima do peso – sendo 700 milhões de indivíduos com obesidade. Nesse cenário, remédios que auxiliam na perda de peso ganham espaço e popularidade.

Uma das substâncias cujos resultados foram os mais recentes a serem anunciados é a amicretina. Assim como a semaglutida (Ozempic e Wegovy), a liraglutida (Victoria e Saxenda) e a tirzepatida (Mounjaro), já aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a amicretina simula a ação de hormônios presentes no corpo humano. Ela atua regulando o apetite, trazendo maior efeito de saciedade.

Remédios contra obesidade e diabetes tipo 2 disponíveis. — Foto: Ana Moscatelli/Arte g1

Remédios contra obesidade e diabetes tipo 2 disponíveis. — Foto: Ana Moscatelli/Arte g1

Abaixo, nesta reportagem, você confere como atuam os seguintes remédios que podem levar à perda de peso:

  1. Amicretina
  2. Retratutida
  3. Tirzepatida
  4. Semaglutida e liraglutida

Amicretina

  • Perda de peso alegada: 13% ao longo de 12 semanas
  • Modo de uso: comprimidos de uso diário
  • Remédios: em fase de estudo, ainda não disponível em nenhum remédio

Ainda em fase de estudo, uma nova substância é apresentada com a promessa de ser mais efetiva do que a semaglutida usada nas canetas contra a obesidade: a amicretina.

Resultados preliminares do estudo realizado pelo laboratório Novo Nordisk (ainda não publicado em revista científica) apontaram que pessoas que fizeram uso da substância perderam em média 13% do peso corporal ao longo de 12 semanas. A farmacêutica concluiu a fase um do estudo no primeiro trimestre de 2024.

A redução de peso apresentada pela farmacêutica é superior à observada com a semaglutida. No mesmo período, ela resulta em uma perda de peso de cerca de 6%, como mostraram dados de um estudo publicado na revista científica JAMA (Journal of the American Medical Association).

Diferentemente dos medicamentos como o Ozempic, Saxenda e Wegovy, que são de aplicação subcutânea, isto é, com canetas injetáveis, a amicretina está sendo testada na forma oral.

A farmacêutica afirma que também está realizando estudos com o formato subcutâneo, com previsão de conclusão para 2025.

  • Como funciona a amicretina?

O funcionamento da amicretina é semelhante ao de medicamentos como a semaglutida e a liraglutida. Isso porque todos imitam a ação de hormônios já secretados naturalmente pelo corpo.

Maria Fernanda Barca, endocrinologista e membro da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), explica que o diferencial da nova substância é que ela simula a ação de dois diferentes hormônios.

“Essa molécula parece se provar mais efetiva por agir de forma semelhante a dois hormônios – o GLP-1 e a amilina – que dão o efeito de saciedade de esvaziamento gástrico”, comenta a endocrinologista.

No caso da semaglutida e da liraglutida, os medicamentos simulam somente a ação do GLP-1.

 O GLP-1 é um hormônio secretado principalmente pelas células do intestino. Ele vai até o cérebro e estimula algumas células, diminuindo o apetite. Já a amilina é produzida no pâncreas e envia ao cérebro esses mesmos sinais que dão ao corpo uma sensação de saciedade(veja no infográfico abaixo)

A amicretina simula o funcionamento de hormônios no corpo. — Foto: Ana Moscatelli/Arte g1

A amicretina simula o funcionamento de hormônios no corpo. — Foto: Ana Moscatelli/Arte g1

Ambos também têm um papel importante no controle da glicose e, por isso, podem também ser utilizados em medicamentos para tratamento de diabetes.

A vantagem dos medicamentos que simulam a ação do GLP-1 é sua durabilidade no corpo humano. Naturalmente, o GLP-1 tem um tempo de vida curto. A DPP4, uma enzima produzida pelo nosso organismo, acaba rápido com o efeito do hormônio, fazendo com que a sensação de fome venha logo.

No caso das versões sintéticas, há uma resistência à ação da enzima DPP4, fazendo com que durem mais tempo no nosso organismo.

De acordo com a endocrinologista, a farmacêutica foi a primeira a sintetizar a amicretina com o objetivo de produzir um medicamento.

“Já era sabido que esses hormônios [GLP-1 e amilina] são capazes de promover o efeito de saciedade, mas essa combinação não havia sido estudada para promover a redução de peso”, analisa.

Apesar do melhor desempenho apontado pelos resultados da fase 1, Maria Fernanda também pondera que o medicamento não deve ser tão efetivo quanto a tirzepatida, presente no Mounjaro.

“No caso do Mounjaro, há relatos de perda de peso acima de 20%. É muito difícil atingir esse patamar. A amicretina deve surgir como uma alternativa para aqueles que não tolerarem a tirzepatida”, compara.

  • Efeitos colaterais

Assim como os demais medicamentos existentes, a amicretina pode causar alguns efeitos colaterais. Segundo a farmacêutica, os efeitos adversos observados são muito semelhantes aos das demais substâncias com a mesma finalidade.

Náuseas vômito são os principais relatados por aqueles que fazem uso de medicamentos como a semaglutida e a liraglutida.

Outros possíveis efeitos colaterais são:

  • Diarreia;
  • Constipação;
  • Inflamação do estômago (gastrite);
  • Refluxo ou azia;
  • Dor abdominal;
  • Dor de cabeça;
  • Sensação de fraqueza e cansaço;
  • Indigestão;
  • Flatulência;
  • Gastroenterite;
  • Doença do refluxo gastresofágico;
  • Cálculo biliar.

A endocrinologista também pontua que os efeitos colaterais variam muito de pessoa para pessoa. Ela também acrescenta que o formato do medicamento – seja subcutâneo ou oral – não influencia diretamente nas possíveis queixas.

“Tem pacientes que toleram muito bem a forma subcutânea e não vão sofrer com os efeitos adversos. Já outros vão se adaptar melhor a medicamentos de uso oral”, analisa.

  • Próximos passos do estudo

Com a conclusão da fase um do estudo, a amicretina se provou segura e bem tolerada por aqueles que fizeram uso da substância, o que permite o avanço da pesquisa.

De acordo com a Novo Nordisk, a fase um do estudo “visou avaliar a segurança e tolerabilidade da substância”. Já na fase dois, a pesquisa deve abranger um número maior de pacientes, para confirmar a eficácia do medicamento antes que ele seja disponibilizado no mercado.

Segundo a farmacêutica, não há previsão de início da fase dois do estudo. Com relação à perspectiva de liberação do novo medicamento para uso, a empresa afirma que, de modo geral, os fármacos lavam em torno de dez anos para chegarem ao mercado depois do início das pesquisas.

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Retratutida

  • Perda de peso alegada: 24% ao longo de um ano
  • Modo de uso: caneta de uso semanal
  • Remédios: em fase de estudo, ainda não disponível em nenhum remédio

Também ainda em fase de estudos, o medicamento tem se mostrado um dos mais promissores na busca pela perda de peso, capaz de reduzir em um quarto o peso do paciente.

O remédio é muito semelhante a três hormônios do corpo que atuam para inibir o apetite. Aplicado por meio de uma caneta injetável, ele pode vir a se somar a outras que já estão no mercado.

A pesquisa com a substância ainda vai passar por uma nova fase, com previsão de conclusão para 2026.

  • Como funciona a retratutida?

Assim como a amicretina, a retratutida é semelhante à semaglutida, a molécula mais famosa no tratamento da obesidade.

A retatrutida, no entanto, simula três hormônios:

  • GLP-1: responsável pela sensação de saciedade;
  • GIP: que melhora a secreção de insulina após uma refeição;
  • GCG: que aumenta o nível de glicose no sangue.

 É essa combinação que, segundo os especialistas, faz com que a perda de peso seja maior do que a proporcionada por os medicamentos que já estão no mercado, além de controlar a diabetes tipo 2.

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Tirzepatida

  • Perda de peso alegada: 20% ao longo de 36 semanas
  • Modo de uso: caneta de uso semanal
  • Remédios: Mounjaro e Zepbound

Considerada, atualmente, a substância mais efetiva na perda de peso disponível no mercado. A redução de peso com o uso do remédio chega a valores superiores a 20% em um período de 9 meses – como demonstraram dados de um estudo publicado na revista científica JAMA (Journal of the American Medical Association).

Como os demais remédios que geram perda de peso, a tirzepatida controla a glicose no sangue e proporciona uma sensação de saciedade, também simulando o funcionamento de hormônios no corpo.

Apesar de já ter seu uso aprovado pela Anvisa, o Mounjaro ainda não está disponível no mercado brasileiro por conta da alta demanda global. A previsão é que ele comece a ser comercializado ainda em 2024.

A Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) definiu qual deve ser o preço do remédio no Brasil. A depender da concentração, e considerando o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS), o medicamento pode chegar a custar mais de R$ 3.700 para o consumidor final.

  • Como funciona a tirzepatida?

Da mesma forma que os anteriores, a tirzepatida simula a ação de hormônios no corpo. A substância é semelhante a atuação de dois hormônios:

  • GIP: que atua na liberação de insulina, diminuindo o apetite e a glicose sanguínea;
  • GLP-1: que atrasa o esvaziamento gástrico, promovendo a saciedade e diminuindo o apetite.

Os estudos que serviram de base para a aprovação do remédio junto à Anvisa apontam que o Mounjaro apresenta resultados superiores de controle da glicemia e de redução de peso quando comparado ao Ozempic.

Mounjaro: como funciona novo remédio com efeito superior ao Ozempic aprovado pela Anvisa

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Semaglutida e liraglutida

  • Perda de peso alegada: 6% ao longo de 12 semanas
  • Modo de uso: caneta de uso diário (liraglutida) e semanal (semaglutida)
  • Remédios: Victoza e Saxenda (liraglutida); Ozempic e Wegovy (semaglutida)

Presentes em remédios como o Ozempic e o Saxenda, a semaglutida e a liraglutida são ainda as principais substâncias de canetas injetáveis utilizadas para tratamento de diabetes 2 – e que vêm ganhando espaço entre os pacientes que buscam perder peso.

Assim como os que foram estudados mais recentemente, medicamento reduz o apetite e dá a sensação de saciedade. Ele precisa estar inserido em uma estratégia de tratamento e ser administrado junto ao acompanhamento de um médico.

  • Como funcionam a semaglutida e a liraglutida?

Diferentemente dos remédios mais atuais, a semaglutida e a liraglutida simulam o funcionamento de somente um hormônio do corpo: o GLP-1.

Naturalmente, esse hormônio é secretado principalmente pelas células do intestino. Ele vai até o cérebro, no hipotálamo, e estimula algumas células, diminuindo o apetite.

Contudo, o GLP-1 tem um tempo de vida curto. A DPP4, uma enzima produzida pelo nosso organismo, acaba rápido com o efeito do hormônio, fazendo com que a sensação de fome ocorra rápido. No caso dos medicamentos que simulam a ação do hormônio, há uma resistência à ação da enzima DPP4, fazendo com que durem mais no corpo.

Publicado no G1

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